sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um novo recomeço

É sentir que ao terminar, tudo volta a começar...


Nada termina, apenas recomeça
E o recomeço é inevitável
Não há nada que impeça
Esse processo louvável.

O final nada mais é do que um novo começo
E tudo volta a ser como no início
Promessas, às vezes vãs, eu reconheço,
São palavras de político em comício.

As intenções são as melhores
Mas nem sempre se concretizam.
Quase sempre são as piores
Que se realizam.

E tudo começa novamente
As mesmas promessas são feitas
Tudo indica que dessa vez será diferente
Mas promessas, apenas quando proferidas, são perfeitas.

E assim o tempo passa
E a vida segue seu caminho
Promessa vã, não importa quem a faça,
Cada um faz de um novo recomeço uma rosa ou seu espinho.

Deleir Inácio de Assis


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Recobrando meus sentidos outrora perdidos

Reencontro.


Foi-se o tato com a sua partida

A palma da minha mão ficou estendida

Apenas podendo lhe acenar,

Sem ter um retorno, um último olhar.

Olhar... Olhar para onde, se não podia lhe ver?

Se mesmo querendo, não tinha esse poder?

Meu consolo era que o coração guardava a lembrança

E que tudo voltaria a ser como era... Doce esperança!

Podia ouvir até mesmo o sussurrar de uma brisa,

De tão atento que me tornei com a solidão que aterroriza.

Acreditando que qualquer ruído que escutasse

Seria indício de seu retorno por inteiro, frente a frente, face a face.

E a sua presença... Ah, que sonho desejado!

São quimeras de um amor bloqueado.

Embora distante, posso sentir o cheiro de seus cabelos,

E o odor de seu perfume, de seus resquícios... Como desejo tê-los!

E nunca mais me sentir assim tão só. Tão só!

Abatido, abandonado. Como se já tivesse retornado ao pó.

Ainda sinto o gosto dos seus beijos fantasiosos, inocentes, pueris.

São ósculos distantes, calorosos, que nunca tive e sempre quis.

Hoje, o nosso reencontro me leva ao delírio

Exultando extasiado com o fim desse martírio

Lutando para conter as lágrimas, a saudade dos bons tempos vividos,

Recobrando meus sentidos outrora perdidos.
Deleir Inácio de Assis

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Inconstância do instante

Em um ínfimo instante, o tudo pode não mais ser
As palavras podem se esvair e se tornar silêncio cruel
O presente instante pode se perder
E padecer
Vendo a noite cair e escurecer o céu.
O sol sem brilho já não será mais sol
A noite sem lua é um negro dia
O canto perdido de um rouxinol
Ecoa em um tom bemol
Na estrada da vida, triste agonia.
O momento da inevitável despedida
Pode durar menos de um segundo
Sem tempo para uma carta ser lida
Sem detalhes para uma história de vida
Sem recordações para levar desse mundo.
O agora passou e não existe
O passado é imutável, isso é verdade
Mas o futuro, seja ele alegre ou triste,
É a nossa grande oportunidade.
E se torna real para aquele que não desiste.
Enquanto um beijo lhe chega à face
Existe outro alguém sendo apunhalado
Não permita que o tempo passe,
Tempo que a cada instante renasce,
E deixe apenas recordações do passado.
Deleir Inácio de Assis

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Saudade avassaladora




Como dói o meu peito
Quando lembro dos momentos
Em que éramos o amor.
E, agora, nem sei direito,
Como nos tornamos tormentos,
Talvez ódio, saudade e rancor.
Minha vida segue sem sentido,
Incompleta, sofrida, amargurada.
Não há consolo que afaste essa saudade.
Se eu soubesse, não teria me rendido,
Se pudesse, tornaria nosso tudo em nada
E se eu morresse, encontraria a liberdade.
Deleir Inácio de Assis

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Caminho da amargura

Quem é capaz de saber minhas amarguras se não eu mesmo?


Ando pelo caminho da amargura e o encontro aflito. Auxilio-o? Desprezo-o? Finjo não tê-lo visto?
Vejo que suas forças se esvaíram. Já não é mais o mesmo. Mas ele luta ainda. Esforça-se. Está cercado de esperança.
Está prostrado, porém, não se entrega. É resistente. Crê na superação. Não vê limites. Ele insiste. Eu insisto.
Eu espero. Olho-o uma vez mais. Espero. Duvido. Acredito. Vejo a tormenta. A tempestade. Ele confia que ainda virá a bonança.

Ele se levanta. E caminha. Um lapso. Torna a se levantar. Retira forças do seu âmago.
Suspira por um instante. Eterno instante. E eu acompanho seu suplício. E me detenho a espreitar seu labor.
A cada passo, um sofrer. Um martírio sua jornada. Ele cai mais uma vez. Coloca as mãos no chão. Reergue-se. Encosta-se em uma parede compassiva. Leva uma mão ao estômago.
A aflição não parece me atingir. É neutra. Impenetrável. Obscura e imparcial. Difícil de se sobrepor.

Ele ampara o rosto com uma das mãos. Parece tentar transpor a barreira da mente. Encontra forças em algo que brota de suas recordações.
Põe-se de pé firmemente. Caminha com lentidão. Confiante. Levanta a cabeça. Vê adiante. Confia. Segue em frente.
Contudo, com a força das lembranças, vêm as lágrimas. Elas escorrem com pureza. Vêm da alma. Machucam-no suavemente. Fazem alusão a dois corações.
Apesar da dor, ele prossegue fielmente. Não se intimida. Acredita. Enfrenta o caminho de amargura. Não se importa com o que sente.

E eu, admirado, sigo-o. Conturbado. Apreensivo. Confiante também. Talvez curioso por saber o que o motiva.
Eu sigo seus passos. Ele deixa para trás um rastro de determinação. Seu coração sangra. Há alguém que o machuca sem tocar nele um único dedo. Isso me deixa perplexo.
Apesar da jornada empreendida, ele se mostra um bom combatente. Um otimista. Sofre, mas luta. Chora, mas sua alma se mantém viva.
Não quero interferir. Mas posso. Assisto de longe a essa procissão ofegante e solitária. Um mundo particular. A sua vida. O caminho de amargura é a minha vida. Ele é o meu reflexo.


Deleir Inácio de Assis

sábado, 14 de agosto de 2010

Seu sorriso

A malícia do seu sorriso... Hipnotiza-me!




No seu sorriso se esconde a malícia travessa de uma criança
Que tenta alcançar uma borboleta em voo aleatório
Com um catavento nas mãos, em movimento rotatório.
Felicidade radiante, que contagia e nunca cansa.
Nele se revela o brilho das constelações mais lindas
E o delírio da energia que se oculta em seu interior
É a luz que emana potente, esbanjando calor
E provocando, ao seu redor, intensa agitação, ainda.
E esse sorriso de delícias seduz, inocente,
Encanta pela naturalidade e pela natureza espontânea
E provoca, inevitavelmente, hipnose instantânea,
Para revelar, no final, o seu poder envolvente.
Deleir Inácio de Assis



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Parascavedecatriafobia

Taguatinga, DF. Sexta-feira, 13 de agosto de 2010.



Em um desprezível assobio do vento
Oculta-se um gélido e inevitável assombro
É o sinal de que se erguerá da escuridão e dos escombros
Algum ser alucinante, causador de tormento.
Os reluzentes olhos do gato são aterrorizantes
Mas não se comparam à sua negritude,
O que remete a se tomar uma precavida atitude
De não permitir que de si ele atravesse diante.
Uma escada encostada na parede, inerte,
Causa mais espanto do que um despacho.
Em hipótese alguma se deve passar por baixo,
Pois, cometido esse erro, não há o que o conserte.

Mas se engana quem crê que não há pior situação,
Erro mais grave é quebrar um espelho!
Não adianta nem dobrar os joelhos
E clamar por alguma compaixão.
Na verdade, assim pensa quem vê no azar uma mania,
Quem tem aversão ou horror à sexta-feira treze.
E pode se preparar para tentar ler várias vezes,
O nome desse pavor irracional é parascavedecatriafobia!
Deleir Inácio de Assis

Meu sustento

Meu sustento, minha força.


Nas horas em que não há mais sentido,

Em que a dor é a única companheira,

Quem é que habita o meu gemido?

Qual é a luz que ilumina sorrateira?



Em sigilo, sofro demasiadamente

E não encontro o caminho que liberta.

Procuro uma porta que seja posta à minha frente,

Quer esteja ela fechada, quer esteja ela aberta.



Esta algema brutal que me castiga

É a ilusão de conseguir um bom motivo.

E o teu olhar é o meu sustento, a mão amiga,

É o que faz ainda me manter e me sentir vivo.



Sem a apoteose da tua mirada voraz

Não sei o que seria de meus dias.

É o único remédio realmente eficaz

Que faz cessar as minhas agonias.



Deleir Inácio de Assis


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Julho

Saí com as armas em punho,
E já se foi o mês de junho.
Lutei. E venci, com muito orgulho!
Foi conquista do mês de julho.
Se preciso for, lutarei com muito gosto.
E que venha o mês de agosto.
Deleir Inácio de Assis

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A efemeridade das intempéries da vida

O vento passa
E leva as folhas caídas
Da árvore da vida,
Deixando lembranças escassas,
Não deixando saída.

A chuva se lança
Sobre a terra amargurada,
Que apenas guarda a lembrança,
Triste lembrança, e mais nada,
De um sorriso de criança.

A noite aparece
E deixa para trás um sonho lindo,
Quando o sol se oculta, partindo.
Ouve-se o som de uma prece.
É um sussurro que não se esquece.

Mas quando o vento cessa,
A chuva termina e a noite já não mais é,
Tudo volta, sem pressa,
A ser mais do que promessa.
Basta apenas ter fé.

Deleir Inácio de Assis

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Você coloriu minha vida de amarelo




De amarelo
Você coloriu a minha vida de amarelo
Não construí na areia um castelo
Nem nas nuvens alcei um voo alto.
De amarelo
Nossas vidas se entrelaçaram feito um elo
Cada um dos meus sonhos é concreto e belo
Não dei um pequeno passo, dei um salto.
Amarelo, ficou assim
Meus desejos são perfume de jasmim
Quero sempre ter você em mim
Meu castelo não é um que desmorona.
Amarelo, ficou assim
E não verde, como o capim
Seu sorriso tem o gosto de pudim
Alcei voo num romance que apaixona.
Deleir Inácio de Assis

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Viver

Viver, e saber que o instante não é eterno
E alçar voo contra o vento forte
Ser tão intenso nas lutas quanto amor materno
Usar as adversidades como suporte
Para se chegar além do seu limite.
Viver, e não desistir diante do primeiro obstáculo
Nem diante do segundo ou do terceiro
Considerar o pôr-do-sol um espetáculo
Que transforma o céu por inteiro
E saber que esse xou não há quem imite.
Viver, e aproveitar cada momento com sutileza
E ao tropeçar, levantar logo em seguida
Não se deixar levar por um minuto de fraqueza
Lembrar que o tempo pode curar qualquer ferida
Mesmo aquela que parece incurável.
Viver, e não ser vencido pelo desconsolo
Usar as lágrimas para lavar a alma
Fazer de cada sorriso um pequeno tijolo
Para construir, com muita calma,
Um caráter em uma vida louvável.

Deleir Inácio de Assis