domingo, 20 de setembro de 2009

Alegria devassa

Alegria devassa


Você em mim é o concreto,
É o abstrato, o subjetivo, o irreal.
Embora seja também o incorreto,
A boa índole, o amor humano, o ideal,
Que torna meu pensamento irracional.
Na partida, é a despedida e a chegada triunfais,
A saudade sincera e apenas desejada.
O seu nome, escrito com letras garrafais,
É o meu consolo, de lágrimas, na carta molhada,
Que tanto fala sem nunca dizer nada.
Causa espanto a sua ausência tenebrosa,
Pois a solidão me assombra e me intimida.
Não havendo nem poesia, nem verso e nem prosa
Na palavra que o vento traz adormecida,
Que ecoa triste, em contrapartida.
Só basta que eu saiba que ainda me ama
Para que, enfim, a primavera renasça.
Para que a amargura que agora em mim inflama
Seja mais uma nuvem negra que passa.
É o legado de uma inconstante alegria devassa.
Deleir Inácio de Assis

Provisão divina

Para o céu eu olho,
De onde virá o meu socorro.
A chuva cai, eu me molho
E sinto que já não morro.
São águas que correm para me salvar
E livrar do tormento da desilusão.
Lágrimas serenas que fluem do olhar
São águas que brotam do meu coração.
Fazem crescer em mim o sentimento
De confiança no que há de ser.
Mantêm firme e forte o pensamento
De que do céu emana o divino poder.
Deleir Inácio de Assis

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Olhar de criança


Ainda observo a vida com um olhar de criança
Olhar puro, infantil e sem malícia
Que vê, analisa e admira cada delícia
Que se mostra no compasso dessa dança.
É um olhar que se desprende de toda maldade
Procurando simplesmente, no escuro, o amor,
Na sarjeta, nas intempéries, na adversidade,
Sondando um campo de guerra à procura de uma flor.
Meu garoto conclui que é difícil se amar
E acreditar na esperança no porvir
Ao se deparar com um mundo de dor sem par.
Mas não pensa nunca em desistir.
Por que será que o amar é a vergonha
E a solidão é a companheira mais fiel?
Se é na inocência e na pureza de quem sonha
Que é revelado o reino do céu?
Deleir Inácio de Assis