quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Solidão: companheira inseparável

É sentir que ao terminar, tudo volta a começar...

É na companhia da solidão que se avista a saída
Tão difícil de se encontrar no labirinto da vida.

É assim que se nota que o estágio final
Nada mais é do que novamente o inicial.

Se a primeira impressão ao sair é de encanto,
Ao saber que tudo volta a começar, no entanto,
Nota-se que o futuro é, na verdade, o passado,
Num movimento progressivo e, ao mesmo tempo, retardado.
E nessa eterna procura, nesse vai-e-vem constante,
O tempo vai passando, seguindo adiante,
Revelando que a solidão, avassaladora companheira,
Sempre foi a razão, no princípio e derradeira.

Deleir Inácio de Assis

Morte


Pintura de 1894 intitulada 'O Cadáver'




Dor
Tumor
Cirurgia
Nostalgia
Decepção
Escuridão...


Deleir Inácio de Assis

Mais uma vida...




Ela sentia um pedacinho do inferno queimando dentro de si. Era a pior sensação que poderia sentir, mas estava decidida: não extrairia aquele ser do seu interior. Aquilo era, apesar de tudo, uma vida. Que pulsava lá dentro, mesmo que ainda não fosse perceptível aos demais. Uma vida asquerosa, vil, indesejada. Só traria dor e sofrimento ao irromper de suas entranhas.
_Não! Embora a desgraça seja explícita, é loucura pensar assim! Sou fiel à minha tradição e jamais recorrerei a uma atrocidade para solucionar meus problemas.
Porém, a cada mês, a cada semana, a cada minuto que passava ela percebia que o demônio se apoderava de seu ventre. Estava obcecada. Não encontraria paz enquanto não expelisse aquela maldição.
Um emaranhado de pensamentos malignos a atormentava. A força que a mantinha firme em seu propósito e que não permitiria que ela cedesse era a crença naquilo que outrora aprendera. A vida é um dom de Deus. Em hipótese alguma poderia interromper aquele processo angustiante.
Mas o tempo passou e já não podia mais mudar de opinião. E a angústia apenas aumentava, chegando ao ponto de se tornar praticamente insuportável. Podia jurar que, inevitavelmente, exalava um odor de enxofre.
E, ao chegar o momento tão esperado, contorcia seu corpo tamanha era a dor que sentia. Parecia que aquela vida permaneceria ali, impregnada, e não a deixaria nunca, jamais! Era um castigo eterno. E, mesmo com toda a força que exercia para expulsar o agente maléfico, tinha a nítida percepção de que aquilo não era um parto, e sim o extirpar de um órgão seu.
No limiar da morte, no momento em que se entregava ao desconhecido, surge um anjo. E à realidade a traz de volta. E ela já não mais sofreria. Nunca mais. Aquele anjo, apesar de ser o fruto de uma tragédia, traria a ela a felicidade que nunca imaginou alcançar em sua vida. E a sensação equivocada de que daria à luz um monstro era, na verdade, o trauma de um covarde estupro.
Vinte e dois anos após, aquele anjo, por ser o único doador compatível, e com um amor incomensurável, entregaria um de seus rins para sua adorada mãe. Seria mera coincidência ou ironia do destino?


Deleir Inácio de Assis

Sentimento confundível

Sentimento que apunhala o coração... Foto: Nina Victor (direitos reservados).


Paixão? Não tenho esse costume,
Mas às vezes esse mal me apavora.
Quando corta, dessa faca o gume
Dilacera e escarnece e devora.



Querendo não querer esse tormento
Eu fujo para não ser encontrado
E acabo me encontrando no lamento
De um pobre coração flagelado.



E essa espada afiada não desiste,
Penetra minha carne e insiste
Em cravar-se em meu interior.



E no ápice da minha agonia
Percebi, afinal! Quem diria...
Esse mal não é paixão, é amor!



Deleir Inácio de Assis

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Triângulo retângulo

O triângulo é o único polígono rígido, ou seja, ele é indeformável.


Admirável és tu, hipotenusa!
Sabes tu que sou teu amuleto,
Com o sustento do outro cateto,
De quem tu também abusas.

Essas curvas são tão agudas,
Com exceção daquele canto reto.
É esplêndido como tu ajudas
A manter nosso elo concreto.


Teu quadrado é deveras grandioso,
Tanto que ao do outro somo o meu
Para equipará-los ao teu.


Unimo-nos, então, os três,
Hipotenusa e catetos, com rigidez,
Em um perfeito triângulo amoroso.



Deleir Inácio de Assis

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O amor e a dor

Nem o amor, nem a dor e nem o vento poder ser vistos; porém, podem ser sentidos com intensidade.


E vem e chega e permanece.
E vem e vai e se esquece.
O primeiro, verdadeiro amor,
O outro, efêmera dor.



E o efêmero amor?
E vem e chega e se esquece.
E a verdadeira dor?
E vem e vai e permanece.



Já a indomável dor de amor
É comparada ao amor à dor.
E vem e chega e vai e se esquece
E, no fim, permanece...

Deleir Inácio de Assis

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Irresistível

Rosa sangrenta atingindo o coração do cavaleiro de ouro Afrodite de Peixes

Como posso resistir ao seu olhar?
O que fazer para não ceder a essa paixão
Tão repentina e capaz de transformar
Em alegria o que era utopia,
Em companhia o que era solidão?
Onde posso me esconder da sua ternura
Que me envolve e não me deixa escapar?
Como a lua iluminando a noite escura,
É mais forte, é o meu suporte,
Meu coração é o seu lugar.

Como posso me desviar desse caminho
Que me leva a encontrar felicidade?
Como a rosa leva em si um vil espinho,
Tão cheirosa, mas perigosa,
Inevitável dupla personalidade...
Deleir Inácio de Assis



Por quê?

Por que eu não consigo lhe esquecer,
Se você não tem olhos para mim?
E se você me deixa tão sozinho
Quando eu mais preciso de você?
Por que você não sai da minha cabeça,
Se você nem lembra que eu existo?
Não quero insistir, mas não desisto,
É impossível fazer com que eu lhe esqueça.
Por que você não quer ficar comigo,
Se eu posso ser bem mais que seu amigo?
Meu amor, você ainda não percebeu,
Mas quem vai lhe fazer feliz sou eu.
Deleir Inácio de Assis

Declaração de amor

O amor que eu sinto por você não se resume em palavras
Não se pode encontrar nas mais belas poesias ou na letra de uma canção romântica.
O amor que sinto por você não está escondido nas notas musicais ou nas cores do arco-íris.
Não se oculta nas asas da borboleta que voa livre e o vento leva.
Não se parece nem um pouco com o doce sabor de um chocolate.
E nem se compara com a suave brisa que sopra e traz a calma.

É mais forte, bem mais intenso. Vai além de tudo o que você possa imaginar. Ultrapassa todos os conceitos humanos de felicidade.

Não prometo o meu amor eterno, pois a eternidade é pouco tempo para amar você.

Deleir Inácio de Assis

sábado, 13 de dezembro de 2008

Anjo travesso

Artista: Robxavier (direitos reservados)








Certa vez, um anjo travesso
Veio à Terra, do céu desceu.
E eu o agarrei com força,
Não o largo, agora é meu.

Ó, meu anjinho travesso
Não volte para lá de onde veio!
Ficar sem você não mereço,
Ficar sem você eu receio...

Deleir Inácio de Assis